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Foto do escritorVinicius Augusto Bozzo

Humor para refletir no brilho de GLOW



"Glow", cartaz da primeira temporada disponível na Netflix.
"Glow", cartaz da primeira temporada disponível na Netflix.

Como é possível se emocionar de verdade em séries que tem a comédia como base para sua criação? Imagino que essa era uma das grandes perguntas que as roteiristas Carly Mensch e Liz Flahive faziam ao elaborar cada episódio da série "GLOW", que segue em sua segunda temporada na Netflix. A série utiliza como pano de fundo um programa de tv de luta livre com mulheres, algo ousado para os anos 80, período em que se passa a trama.


Roteiristas de Glow, Carly Mensch e Liz Flahive
Roteiristas de Glow, Carly Mensch e Liz Flahive

A série vai além dos recursos metalinguísticos, já que ela fala sobre como se produzir uma série de tv; utiliza a nostalgia de modo mais realístico e menos piega; e vai além dos personagens estereotipados em cima do ringue, como já é tradição no Wrestling. "GLOW" emociona porque utiliza em sua receita personagens nada rasos.


A disputa central entre as ex-melhores amigas Debbie (Betty Gilpin) e Ruth (Alison Brie) se desdobrará dentro e fora das lutas. O motivo da premissa inicial da série é uma traição, onde Ruth tem um caso com o marido de Debbie, mas a relação de disputa pelo homem não é o tema central, tanto que o tema é meio abandonado um ou dois capítulos depois. O roteiro surpreende levando as duas protagonistas a um mesmo trabalho pouco comum, virar lutadora de Wrestling com outras mulheres.


Quando você começa a perceber a quantidade de personagens que surgem, chega a pensar que a série não vai dar conta. Porém, suas personalidades fortes e histórias de vidas completamente diferentes impulsionam as constantes reviravoltas que elas tem enquanto aprendem com elas mesmas a sobreviver. Juntas elas vencem preconceitos e mostram ser atuantes, e pagam um alto preço por isso. A série não abdica da sensualidade feminina extremada dos anos 80 ou tenta esconder as atitudes machistas e mal educadas desta época.


Os episódios curtos, que não passam de 30 minutos, tem texto rápido e direto. Como se a cada linha de diálogo fosse um passo evolutivo no drama. Às vezes nos faz rir, e às vezes nos faz chorar. Mas não é um choro descomunal. É um choro de superação, de ver personagens amadurecendo com um teor de realidade agradável. Não dá tempo de chorar demais, porque na próxima cena já vem um diálogo cômico, ou cômico/trágico que o faz gostar das personagens com todos os seus defeitos.



A dupla de roteiristas também assina o roteiro de "Capitã Marvel" que estreia em breve, torço para que elas consigam levar para o cinema a mesma liberdade de criação e de personificação que conseguem dar em "GLOW". E que venham mais séries de humor que saibam tocar, que nos façam refletir sobre nossa própria vida, nossas próprias decisões.


Esse é o real brilho da série, não é o neon, não são os collants, não são as lantejoulas... é a humanidade trazida na tela por um elenco extremamente competente e um ótimo time de roteiristas.


 

Texto publicado orignalmente no LinkedIn, em 26 de julho de 2018, ver mais: https://www.linkedin.com/pulse/humor-para-refletir-brilho-de-glow-vinicius-augusto-bozzo/


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